A nossa orelha é formada por um arcabouço de cartilagem que está 95% para fora da cabeça, todo coberto por pele. Essa posição mais externa consagrou a orelha como fonte de adornos, como brincos e piercings. Além disso, frequentemente sofre traumas, como vemos nos casos dos lutadores de Jiu-jitsu. As agressões à cartilagem acarretam a destruição da arquitetura normal da orelha, algumas vezes culminando na popular “orelha em couve-flor”. Aqui abordaremos as principais causas e qual o tratamento ideal para um melhor resultado estético e funcional.
1. Hematoma de orelha
Batidas, erosões, torções e outros traumas da orelha podem romper algum vaso sanguíneo e acarretar hematoma. O hematoma auricular é o acúmulo de sangue junto da cartilagem, abaixo de um tecido chamado pericôndrio. O sangue que nutre a cartilagem vem dessa camada. Assim, quando ocorre um hematoma, a cartilagem fica sem sangue (isquêmica), culminando em sua necrose.
Tanto o sangue parado quanto a cartilagem necrosada são muito propensos a infectar. As bactérias destroem a cartilagem normal, gerando uma resposta do organismo de fibrose intensa e produção de mais cartilagem. O resultado desse processo é uma orelha desfigurada, com deformidade importante da área afetada, a chamada “orelha em couve-flor”.
Esse processo é muito comum em atletas de artes marciais. O esporte envolve um atrito constante da cabeça contra o tatame, traumas repetidos a cada treino. O hematoma de orelha pode ser identificado como um abaulamento na região. Ao toque, parece uma bexiga, podendo-se sentir o líquido em seu interior. A pele pode se tornar avermelhada ou arroxeada.
2. Infecção, a famosa condrite ou pericondrite
Como comentado, as cartilagens dependem de outra estrutura para sua nutrição. Isto é, não possuem artérias próprias, dependem das artérias dos tecidos que a revestem, o pericôndrio. Essa observação anatômica é o motivo de ser tão fácil infectar e perder tecido cartilaginoso. Com o afastamento do pericôndrio da cartilagem (por inchaço, sangue ou pus), as células de defesa não chegam até o ponto de infecção e o processo se alastra.
O princípio é um inchaço e uma vermelhidão no local afetado. Rapidamente o paciente começa a sentir incômodo, a orelha fica dolorosa. Os sintomas tendem a ir piorando caso não se estabeleça o tratamento. Com a progressão da infecção, acúmulos de pus se formam, por vezes abrindo buracos na pele e eliminando secreções.
A cartilagem vai sendo destruída e substituída pelo resultado do processo inflamatório: fibrose intensa e cartilagem mal-formada. A pele de cobertura vai sendo afetada também, ficando mais rígida.
Quadros graves, que não foram tratados, evoluem com a chamada deformidade de orelha em couve-flor, de forma semelhante ao hematoma.
O que deve ser feito? Como tratar?
No caso dos hematomas de orelha, a drenagem do sangue parado é mandatória e deve ser realizada imediatamente. O objetivo é evitar o dano permanente da cartilagem. Quando o diagnóstico é de infecção (pericondrite ou condrite), antibióticos devem ser iniciados precocemente. É sempre importante drenar (esvaziar) o acúmulo de pus quando este está presente. Alguns casos demandam um tratamento mais prolongado de antibióticos, por vezes com necessidade de irrigação local com uma sonda.
Casos mais arrastados (crônicos) e/ou com deformidade significativa são de indicação cirúrgica. O cirurgião plástico desbrida (remove) os tecidos que não são viáveis, que não podem ser recuperados, lava bem o local e reconstrói da melhor forma possível. Casos mais severos necessitam de abordagens seriadas, algumas limpezas cirúrgicas antes da reconstrução.
A reconstrução da orelha é um procedimento muito individualizado. Existem diversas técnicas, diversas formas de atingir um resultado esteticamente satisfatório. Cada paciente deve ser avaliado minuciosamente, buscar o melhor tratamento para a sua deformidade de orelha.
Deformidades mais leves ou mais localizadas podem ser reconstruídas com procedimentos menores. Enxertos de cartilagem frequentemente são necessários, podendo ser retirados da mesma orelha ou da contralateral.
Por outro lado, as deformidades maiores precisam de uma reconstrução mais sofisticada, utilizando cartilagem da costela. Algumas vezes é necessária a confecção de uma nova orelha totalmente, a neo-otoplastia.
O resultado estético final depende muito do contato com um especialista, um profissional que tenha conhecimento específico na área e possa oferecer um tratamento funcionalmente e esteticamente satisfatório. Entre em contato conosco caso necessite de um atendimento, nossa equipe está à disposição para situações eletivas ou de urgência.